Vou
me embora dessa terra...
-
Olodumaré...
Para
outra terra eu vou...
-
Olodumaré...
Sei
que aqui eu sou querido...
-
Olodumaré...
Mas
não sei se lá eu sou...
-
Olodumaré...
O
que eu tenho pra levar...
-
Olodumaré...
É
a saudade desse chão...
-
Olodumaré...
Minha
força, meu batuque...
-
Olodumaré...
Heranças
da minha nação...
Ainda
me lembro
Do
terror, da agonia,
Como
um louco eu corria
Para
poder escapar.
E
num porão
De
um navio, dia e noite,
Fome
e sede e o açoite
Conheci,
posso contar.
Que
o destino
Quase
sempre foi a morte,
Muitos
só tiveram a sorte
De
a mortalha ser o mar.
Na
nova terra
Novos
povos, novas línguas,
Pelourinho,
dor à míngua,
Nunca
mais pude voltar.
E
mesmo escravo
Nas
caldeiras das usinas,
Nas
senzalas e nas minas
Nova
raça fiz brotar.
Hoje
essa terra
Tem
meu cheiro, minha cor,
O
meu sangue, meu tambor,
Minha
saga pra lembrar.
(Nóbrega, Antônio; FREIRE, Wilson. Pernambuco falando
para o mundo. Eldorado, faixa 4.)
Vocabulário
Olodumaré: deus supremo entre os
iorubas, povo negro do grupo sudanês da África ocidental que vive no Sudeste da
Nigéria, em Benim e em Togo, trazidos em grandes levas para o Brasil.
açoite: qualquer objeto que
pode servir para castigar alguém; chicote.
mortalha: pano ou vestimenta
com que se envolve o cadáver; sepultura, cova.
pelourinho: coluna de pedra ou
de madeira colocada em praça ou lugar central e público, onde eram exibidos e
castigados os criminosos.
à
míngua: num estado de extrema pobreza; na miséria, na penúria.
caldeira: recipiente metálico
destinado a aquecer água e outros líquidos, a produzir vapor.
senzala: alojamento que
abrigava os escravos.
saga:
história rica em aventuras.
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