quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sítio Caroano

Por: Mestre Cafuné (Formado do Mestre Bimba).
Matéria extraída da Revista Praticando Capoeira nº21/ ano II


No Nordeste de Amaralina, bairro da orla marítima de Salvador, logo que se subia a ladeira enfrente ao Quartel do Exército, virando-se primeiro à esquerda e logo em seguida à direita, chegava-se ao Sítio Caroano. Numa casa de esquina, branca, com um aporta e duas janelas, coberta de telhas de amianto, ficava a sede de nossa “Academia”
Estar ali para nós os alunos era uma espécie de honra de que muitos nos orgulhávamos. Ao entrar naquele barracão com seu salão enfeitado de bandeirolas no teto, com uma portinha interna de onde saía nos dias de festas uma bebida chamada mulher barbada ou barbadinha, preparada pelo próprio Mestre Bimba de uma receita mantida em segredo por eles e seus familiares, juntamente com uns acarajés e uns abarás, ao entrarmos ali já encontrávamos o chão de cimento batido sempre varrido e tudo arrumado. Tirávamos os sapatos para não sujar o recinto, em sinal de respeito.
Era ali onde as de realizavam as festas de batizados, as formaturas, as aulas especiais aos Domingos pela manhã ou muitas das exibições para grupos de turistas e visitantes e também realizavam-se os exames dos alunos escalados par a formatura; para os exames, o Mestre num dia qualquer da semana convocava: você, você, você e você, exame domingo. Era simples assim, os escolhidos nunca perguntavam por que e muito menos os que não haviam sido escolhidos faziam qualquer questionamento sobre a escolha. Confiávamos totalmente nas decisões de nosso Mestre.
Naquele barracão havia uma coisa especial no ar, o ambiente era para nós como que sagrado, bem diferente do ambiente mais íntimo do dia -a- dia da Academia do Pelourinho. As aulas eram sempre aos domingos pela manhã, chegávamos bem cedinho e algum de nós já vinha de casa com a roupa de capoeira, coisa que o Mestre não recomendava, ele dizia – não mostre o que você tem, a surpresa é a nossa melhor aliada – e já encontrávamos a esposa do Mestre e outras baianas na arrumação da casa e elas permaneciam por ali para fazerem parte do coro, tanto da roda de capoeira como dos ensaios e apresentações da Puxada de Rede ou do Maculelê, do Samba de Roda ou do Samba Duro, ou então das danças de Candomblé, seu Bimba explicava que eram a penas representações para os turistas e que embora estas representações fossem fiéis à religião do Candomblé não era o ritual em si, demonstrando assim o respeito que o mesmo tinha por sua religião – o Mestre Bimba era Ogan. Aos Domingos tínhamos esse encontro com a vadiação...
O espaço de cimento batido com seus bancos compridos tipo “pela- porco” para as visitas, o colorido das bandeirolas, a presença das baianas, tudo isto nos dava uma emoção diferente, principalmente pela presença de alguns alunos mais antigos que sempre nos honravam com suas presenças, participações e histórias.
Nas festas de batizado e formaturas o horário das 14 horas era fielmente cumprido, tínhamos que chegar às 13 horas para os preparativos e com as roupas muito limpas e alvas, o Mestre não se atrasava nunca e multava com algumas brahmas ou barbadinhas se por acaso nos atrasássemos.
Sempre nquando terminavam as aulas nas manhãs de Domingo, os mais íntimos do Mestre, geralmente os mais antigos, tinha a regalia de ir até a residência de seu Bimba para uns bate- papos mais demorados, ouvir estórias, casos da vida do Mestre e da capoeira de antigamente. Jair Moura, Dr. Decânio, Medicina, Onça, Camisa Roxa, Itapoan, Boinha, Piloto e muitos outros. Muitas vezes estavam presentes Edinho, Rosendo,Gigante e Braz que ajudava o Mestre nos pandeiros e berimbau, alguns colegas e amigos do Mestre, capoeiristas muito antigos participavam destas conversas pois era muito grande a amizade de seu Bimba para com esses seus colaboradores e antigos companheiros que nos premiavam com muitas lembranças de coisas passadas para contar. Os alunos que privavam dessas conversas tinham toda a atenção dos familiares do Mestre. Não que aos novatos não fosse permitido compartilhar esses momentos, é que os mesmos como quer por respeito se resguardavam aguardando o momento de sua vez. Tal ritual ninguém determinava, ele nascia quase que espontaneamente e todos tinham muito respeito por ele.
Ainda aos Domingos de manhã, saída as 11/12 horas mais ou menos, alguns alunos como Boinha, Alegria, Bolão, Zilá uma das poucas moças a praticar capoeira naquela época, eu Cafuné, Xaréu Calango, Pombo de Ouroe tantos outros paravam num barzinho que havia no meio da ladeira do Nordeste de Amarelina para saciarem a sede com um rápido copo de cerveja ou refrigerante e desciam para a praia ou para suas casas completamente felizes, satisfeitos, em quase estado de graça, de leveza, em fim, de bem com a vida.
E era assim o ambiente aos Domingos no “arraia da mandassaia”, em Amaralina. Escrevendo isto a saudade pega forte.
Oh sim, sim, sim
Oh não, não, não
Oh sim, sim, sim
Oh não, não, não

Mestre dos Mestres
Autor: Mestre Camisa
Grupo Abadá.
Manoel dos Reis Machado (bis)
Foi embora e nos deixou
Deus lhe ponha em bom lugar
Pois é merecedor
Foi o rei da Capoeira
Foi ele que me ensinou
Ele foi mestre dos mestres
Meu mestre que Deus levou
Se não joga mais na terra
Pode lá no céu jogar
Com Traíra e Besouro
Aberrê e Waldemar
Ele foi rei aqui na terra
Hoje é rei em outro lugar, camará
Iê vive meu Mestre...













Um comentário:

  1. oi prof.s é a Ingrid!!!! li o texto e reparei q a prof. cris falou sobre ele antes no final da aula, em questão, ao respeito as escolhas q o mestre fazia!!! prof. o horário em q geralmente é feito nossos batizados tbm é uma homenagem a M.Bimba? Pois os nossos tbm são as 14:00h q eu me lembre!!! bjus contramestras Bebezonas!!!!

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